Tá crescido, moço!

                Quase não te reconheci ao vê-lo hoje. Você está mais alto, mais forte e sua barba finalmente começou a crescer. O que não m...

                Quase não te reconheci ao vê-lo hoje. Você está mais alto, mais forte e sua barba finalmente começou a crescer. O que não mudou foi seu cabelo - continua sendo cortado bem baixo, para que se pareça com seu pai.
                Sabe, eu também mudei. Não cresci - continuo com meus míseros 164,5 centímetros. Mas estou mais magra, com o cabelo meio castanho e usando óculos.
                Quer saber das novidades? Agora moro sozinha, acredita?
                Pois é, minha mãe quase surtou quando disse que ia mudar. Ela não queria deixar, mas eu já tinha 18 anos e uma economia suficiente - ela não podia me impedir. Também fiz as minhas duas tatuagens tão sonhadas: a coruja, igualzinha a da Grazi, e no mesmo lugar - panturrilha esquerda - e a árvore nas costelas. A nossa árvore. Eu hesitei a fazê-la, pois sabia que doeria toda vez que olhasse para ela e me lembrasse da inspiração; mas é que eu já tinha feito a promessa, e não podia quebrá-la. Era meu sonho fazê-la.
                Sabe, por mais que eu tenha mudado exteriormente, por dentro nada mudou. Continuo tendo ataques súbitos de inspiração, principalmente que envolvam você.
                Pois é, moço, você não sai da minha cabeça. Porque toda vez que vejo uma criança, sinto falta da sua mão para poder apertá-la. Quando vejo um vestido lindo, não tenho com quem comentar. Escuto as mesmas velhas músicas, já que não tenho mais ninguém para me indicar boa música e minha estante tem o mesmo número de livros quando você foi embora, porque ninguém me dá de presente e minha alma dói só de imaginar em entrar numa livraria sem você.
                Muita gente diria que estou estagnada - afinal, vivo a mesma vida de quando tinha 16 anos, quando eu fiz uma coisa muito ruim com você, tão ruim que te fez ir embora. Mas eu não me importo com o que dizem (aliás, essa foi a única coisa que mudou em mim).
                Vivo uma vida de ilusões. Felizes ilusões.
                Elas são tudo o que tenho, desde que você saiu pela porta da sala e não voltou.


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