Há uma antiga lenda chinesa que conheci esses dias. Ela se chama Akai Ito e diz que uma linha vermelha, invisível aos humanos, é amarrada ao tornozelo de cada homem e mulher que estão destinados a ser almas gêmeas em seu futuro, como se suas histórias já estivesse definidas para se cruzarem em algum ponto de suas vidas, antes mesmo de nascer.

          Com um copo de Whisky ou café e um caderno cheio de rabiscos incompletos, eu sigo a vida. Me sento em bares e cafeterias e analiso cada uma das pessoas ao meu redor. Um rapaz qualquer me para, me oferece um drink ou um cappuccino. Eu recuso educadamente. Ele insiste. Começo a ficar estressada, porque ele me atrapalha enquanto analiso as pessoas ao meu redor. Ele olha pra minha mão com o caderno e tira um caderno de sua mochila, ou bolsa, depende do estilo. Eu sorrio então. Ele é escritor; mais um dos amantes sentimentais perdidos entre músculos, ossos e desapego.
          Ele me convida para dar uma volta, tomar um ar fresco e discutir sobre o rumo da humanidade ou qualquer outro assunto que seja considerado de "humanas demais" até pra galera de humanas. Provavelmente haverá um parque por perto e nós vamos pra lá, se for de manhã. Se for a noite, só vamos parar do lado de fora do bar, longe da área de fumantes. Cada um estará com a sua lata e nos sentaremos no meio-fio. É sempre assim.
          Se eu me preocupo em andar por aí com um cara que nem conheço? Claro que não! Me disseram uma vez que os olhos são o espelho da alma, e seus olhos me dizem que ele é como eu. Assustado. Inseguro. Inofensivo. Perdido por aí, em busca de algo ou alguém que lhe faça flutuar pelas nuvens e mudar seu destino.
          Talvez ele possa até buscar um amor, mas só se ainda não tiver quebrado a cara - e o coração - o suficiente. Se tiver, ele anda pela cidade atrás de uma distração, um passatempo, até que o timer apite e seu coração esteja inteiro novamente.
          Quase sempre que saio conheço um novo. As vezes é Bruno, as vezes é Eduardo. João. Pedro. Gabriel. Mateus. Marcos. Lucas.
          E eu? Clarisse. Bianca. Vitória. Ana. Luiza. Eu, ou melhor, nós somos somos uma pequena parcela, excluída de uma juventude que acabou se tornando superficial, por medo da decepção e que acaba cantando a plenos pulmões "de copo sempre cheio, coração vazio", sem saber quão decepcionante é ouvi-los cantar esse tipo de coisa. Nosso pequeno grupo, ao contrário, abre os braços e o coração para a decepção e, consequentemente, para a experiência e o amadurecimento.
         Sabe por que nos abrimos tão cedo? Porque aí nos tornamos mais resistentes à dor mais cedo. Assim, não vamos despencar tão fácil quando o "verdadeiro" sofrimento chegar.
          Enquanto isso, eu e Davi - é o nome dessa vez - tomamos mais um café no centro, e discutimos sobre assuntos que são "de humanas demais" até pra galera de humanas.

- Cara, tô mal demais.
- Mas o que aconteceu, mano?
- Hoje eu vi ela.
- Vish. Onde?
- Ela tava no shopping com umas meninas que eu não conheço. Devem ser as novas amiguinhas.
- Mas por que tá tão mal assim? Não foi tu que falou que já tinha esquecido, tinha tocado tua vida?
- Ah, velho, é aquela coisa. Tu acha que superou até ver a pessoa, sabe? E ela parece tão feliz. Tão bem. E tá tão linda! Desde a hora que a vi não paro de pensar nela.
- Na real? Desencana. Ficar pensando nela vai te fazer ficar mais mal ainda. Vai atrás de umas garotas hoje. Vai esquecer rapidinho.
- Pior que nem vou, não. Foram 3 anos juntos! Ela me conhece - ou conhecia - como ninguém.
- Cara, detesto te ver mal assim.
- E sabe o que é pior?
- O que?
- Depois chegaram uns caras. Sabe esses mauricinhos engomadinhos que tem cara de que tem mó dinheiro? Pois é, desses mesmo. E um deles, tava até com a camisa do Arctic Monkeys, chegou nela e deu selinho. Pegou a bolsa dela e eles saíram de mãos dadas.
- Nossa, cara, sério?
- Tu acha que ia mentir sobre isso?
- Não, não, é só que é tenso imaginar. Tipo, eu achei que tu ia superar primeiro que ela.
- E por que tu acha isso?
- Bem, depois que vocês terminaram, tu foi morar com sua avó uns meses, então não viu como ela ficou. Cara, ela sumiu, tá ligado? As meninas da minha sala conversam com ela, e elas me contaram que ela não queria sair de casa. Só ficava no quarto, trancada, assistindo filme o dia inteiro. Ela falou que tinha cansado do mundo, que ia viver no próprio mundo dela. Era só faculdade, igreja e casa.
- Sério mesmo? Por que tu nunca me contou?
- Ah, a galera achou melhor não tocar no assunto contigo. A gente viu que o término tinha sido pra valer, então nem fizemos questão de contar.
- Tá, mas como ela voltou a ficar tão felizinha assim?
- Fiquei sabendo que um dia o pai dela pirou. Abriu a porta do quarto de supetão, e ela nem reagiu. Só ficou olhando pra cara dele. Ele ajoelhou na beira da cama dela - ela tava deitada, tá ligado? - e falou um monte, deu mó esporro nela. Falou que já tava desesperado de ver ela naquela situação, que ele não tinha criado a princesa dele pra ser magoada pelo primeiro idiota que aparecesse. Ele até falou que tinha criado uma filha mais forte do que aquilo. Também disse que não queria mais saber dela só no quarto. Abriu a carteira, deu uns 500 reais pra ela e mandou ela sair com as amigas ou qualquer pessoa.
- E aí?
- Daí ela abraçou ele e começou a chorar demais, demais mesmo. Depois ela deu um beijo no rosto dele e agradeceu por ter trago ela de volta. Desde aquele dia ela começou a malhar, foi pra algumas festas da faculdade.
- E o namoradinho é de lá também? Afinal de contas, onde ela tá estudando?
- Ele é de lá mesmo, só que não do mesmo curso. Ela tá na faculdade da capital, sabe?
- Ah tá. E ele faz curso de que?
- Ouvi dizer que engenharia aeroespacial.
- Ah, o sonho dela. Se casar com um cara de exatas, só pra provar que os opostos se atraem.
- Vou fazer de conta que não ouvi seu último comentário. Enfim, ouvi dizer que agora ela tá de boa, tá melhor.
- Ela? Por que ninguém liga pra como eu tô?
- Tá, e qual a diferença entre quem você era com ela e sem ela, tirando algumas garrafas de rum a mais e o mau-humor 24 horas por dia?
- Ok, ok, tu tem razão. Ainda sim, tô bolado.
- O que tu tem que fazer é seguir em frente. Eu não vou fazer contigo o que o pai dela fez, porque você não é meu filho, e já é crescido pra saber a se defender das porradas da vida.
- É, eu sei. Eu nunca aprendo.
- Pois é. Nunca.

         Se você reparar as duas principais histórias do meu blog, vai reparar que elas tem um ponto-chave em comum, e a trama (ainda incompleta nos dois casos) se desenrola a partir daí.
         As minhas ficções sempre começam com uma garota indo pra longe e o seu amado indo atrás dela. Por muito, muito tempo eu neguei assumir que era minha vida ali. A ficha só caiu quando percebi que só conseguia escrever mais um capítulo quando algo acontecia em minha vida.
         O suposto "amado" era algo que eu idealizava desde pequena; um "príncipe" que me amasse incondicionalmente, que fizesse tudo por mim. Hoje, depois de quebrar a cara algumas vezes, aceito e louvo o fato de que o meu príncipe sou eu. Não preciso de alguém que fique sempre atrás de mim, afinal, quem gosta de encosto é cadeira.
         Hoje eu abro as portas, janelas, estico o tapete de boas-vindas e vem comigo quem quiser e tiver paciência pra me aturar. E se ninguém vier, não tem companhia melhor que o amor próprio.
         Dessa vez estou indo embora e não levo bagagem, que é pra ter mais espaço pras lembranças nessa viagem louca que a gente costuma chamar de vida. Afinal, ela é uma caixinha de surpresas.
         Pra ser sincera, fui ser feliz, e não sei se volto.

          Não posso negar, meu 2016 já começou maravilhoso. No 3º dia do ano ganhei um computador novo - finalmente vou poder começar a postar com mais frequência! - e daqui 5 dias sai a nota do ENEM, e estou com uma sensação muita boa.
          Na verdade, desde o mês passado eu já vinha percebendo que 2016 seria um ano diferente. Sabe aquele friozinho na barriga que você não sabe de onde vem, mas depois de algum tempo recebe uma notícia boa e descobre que era aquilo? Foi o que aconteceu. Por mais que fosse só mais uma sexta-feira e eu tenha passado a maior parte do tempo dormindo, algo aqui dentro do meu peito já dizia que não era a mesma coisa. E esse sentimento vem desde a meia-noite.
          Eu sei que tem muita gente que fala que quem faz um ano bom ou ruim é você, ou que a virada de ano é só mais uma noite, mas ultimamente eu tenho acreditado muito em destino. Adepta da filosofia Maktub, acredito que a maior parte do nosso cotidiano é sim pré-determinado e a única coisa capaz de mudar o rumo é a forma como reagimos aos acontecimentos diversos.
          2016 está parecendo com aquele amigo distante que você não vê a hora de finalmente vê-lo e passar a maior parte do tempo junto com ele.
          Ainda que coisas boas não aconteçam espontaneamente esse ano, sei que é minha obrigação fazer com que ele seja um ano bom. Se eu me sinto feliz, é meu dever fazer com que meu ano e as pessoas a volta dele também sejam felizes. Porque a vida é assim, um mar de sentimentos compartilhados.
           Não, dessa vez não fiz uma  lista de resoluções para 2016. Não que eu não tenha nenhum objetivo pra esse ano. Quero emagrecer e começar a juntar uma grana, mas não quero me prender a isso e ficar louca se o ano acabar e eu não tiver cumprido. A única coisa que decidi fazer foi pegar um pote de vidro e colocar dentro anotações com todas as coisas boas que estão acontecendo. Nelas vão desde almoçar em família e tomar sorvete até ganhar um notebook. Minha intenção? Me lembrar que até os menores momentos fazem com que meu ano seja incrível.
           Enfim, o que desejo a todos vocês, leitores do blog que me fazem acreditar cada vez mais na minha capacidade, é que tenho um ano lindo e delicioso. Que cada sonho de vocês se realizem, que alcancem suas metas e que sejam muito, mas muito felizes mesmo!
           Obrigada por me fazerem ser quem sou. Amo vocês! <3
xoxo,
L.

         Todo cara que eu conheci e que pareceu ser legal escutou essa mesma frase: "Eu sou uma bagunça". Alguns levaram a sério e se afastaram sem saber se podiam lidar com a baderna. Outros acharam que era vitimismo e me rotularam de chata. Outros decidiram dar a cara a tapa e enfrentar o emaranhado de pensamentos, sentimentos e escritos. A esses últimos dedico esse texto e a minha vida.

           Quando você é uma bagunça, a sua vida é um pouco mais complicada que a maioria. Você é uma pessoa indecisa; o seu pior pesadelo é ouvir um "você que sabe" e derivados. O seu dia é completamente programado com antecedência, e qualquer coisa que te faça mudar de última hora te irrita. Por que tudo isso? Pra não ter que procurar sentido no meio da bagunça.

           Quando se é uma mistura de poemas, prosas e espírito, se apaixonar é um problema. Você se entrega demais, sem nem pensar. Mergulha de cabeça em pessoas rasas, e isso machuca. Machuca a cabeça e o coração.

           Quando você se reconhece como uma bagunça, a vida melhora um pouquinho. Porque você meio que arruma essa baguncinha e, o que não conseguiu, enfia pra debaixo do tapete ou pra dentro da guarda-roupa da alma. O problema é quando as coisas mal-resolvidas se acumulam e não conseguem mais ficar guardadas; então você explode e atinge qualquer um que esteja por perto. Nessa hora a única vontade é de largar tudo, pegar o moletom preferido e sair sem rumo. Ou, quem sabe, procurando algum.

           Nós, bagunçados e desajustados por natureza, recorremos a filmes, séries, livros e o que mais for ficcional, com a esperança de que tudo o que é real suma, e só sobre aquelas frases, gravadas em cadernos, paredes e coração. Vamos atrás de boas doses de whisky em bares lotados e músicas altas em ambientes sufocantes, esperando que tudo o que há por dentro se esmague ou simplesmente desapareça. Vamos de um extremo a outro em segundos porque sempre, sempre temos dois lados de uma mesma situação ou sensação lutando, numa guerra onde nenhum dos lados vence.

           Ser - e, consequentemente, admitir ser - uma bagunça é passar por lutas diárias e comentários sarcásticos de quem não entende o que é batalhar contra si mesmo. É se assumir diferente da maioria, sem necessariamente se enquadrar em qualquer minoria.

           Ser bagunçado é rir de si próprio e da vida quando ela tentar te derrubar.