Minha pequena, agora você dorme, e eu, aflita, como mãe de primeira viagem, olho atentamente para me certificar de que está respirando.

        Eu estou aqui me revirando na cama desde as 4 da manhã, e a culpa é toda sua. Fiquei pensando em tudo que a gente conversou ontem, sobre as coisas da vida, e acabei criando uma teoria: Vivemos num inferno, onde as flores já morreram, mas os amores ainda não.
        Tudo bem, sei que era uma tarde nublada e congelante de maio, mas você sabe bem o que quero dizer com inferno. Quantas pessoas amando sozinhas ou arrumando outros vícios, que não o amor?
        É, eu desconfiei que fosse fazer essa cara. Para você o amor é puro e simples, não é viciante nem faz mal. Acho - ou melhor, tenho certeza - que essa sua inocência perante a coisa mais importante da vida que me fez te amar tanto. Você é um anjo no meio do inferno.
        Por favor, não perca a inocência. Ela é o meu porto seguro no meio de tanta confusão e sofrimento. Pois é. A dor já me fez visitas muito incômodas.
        Mas, sabe, não quero falar das minhas dores, deixo isso pro meu psicólogo. Com você, quero falar das flores. É por causa delas que, por mais que estejamos no meio de maio, é um inferno pra mim. Onde estão as minhas pétalas ao vento? As minhas cores que me fazem acreditar no bem a caminho do trabalho? Sinto falta das minhas tulipas e rosas e ipês, todos floridos. E sinto falta da margarida no meu peito.
        É, meu anjo, eu tenho uma florzinha aqui dentro também. Sabe aquela margaridinha com uma pétala solta que desenho em todo lugar e, inclusive, está marcada no lado direito do meu corpo, em forma de tatuagem? Essa florzinha está aqui dentro, guardadinha junto com tudo o que amo. Junto com você.
        Porque ela me mostra que é possível amar até nos dias mais frios e escuros que, particularmente, são os meus preferidos.
        Só que ela está morrendo, amor, porque o mundo é um inferno, e isso tá machucando ela. Está deixando-a mole e com as bordas marrons, maculando o branco das suas pétalas, como se tudo estivesse quente demais.
        Traz um pouco do teu amor e me resfria. Me mostra que há um paraíso bem no meio do inferno que é esse mundo. Traz a tua jaqueta pra me proteger do frio de maio, e o teu calor pra me proteger do frio da vida. Não deixa eu me transformar em um buquê de flores mortas, como diz Criolo. Me mostra como plantar, regar e adubar o jardim da alma.
        Porque vivemos num inferno onde as flores já morreram, mas os amores ainda não.

         Hoje mais cedo eu perguntei no Twitter - na verdade implorei - sobre o que eu podia escrever. A minha melhor amiga me deu a ideia de falar sobre a chuva, e o que ela causa nas pessoas.
        Antes de eu falar sobre isso, preciso voltar um pouco. Há 10 anos ou mais. Desde muito nova, sempre fui aquele tipo de criança que pergunta sobre tudo. TUDO. "Por que isso?", "Por que aquilo?" e a chuva sempre foi o tema que mais me perseguia nessas palavras. Por que cai água do céu? Por que acontece o arco-íris? Por que a chuva é tão boa e tão má ao mesmo tempo? Por que a chuva deixa as pessoas tão tristes?
        Pois é, já pararam pra pensar sobre isso? 80% das músicas tristes envolvem chuva. Textos tristes começam ou terminam na chuva. E aquela cena clássica onde um romance maravilhoso termina debaixo de uma chuva torrencial?
        Depois de tanto observar e "viajar na maionese", criei uma teoria. A chuva nos deixa assim porque, mesmo que por pouco tempo, nos mostra que nem tudo é lindo e claro como a luz do Sol. Nem tudo na vida é maravilhoso como um piquenique num gramado florido. Quando chove, tudo fica escuro, e é nessa hora que nos lembramos que também somos assim. Depois de todos os sorrisos e cumprimentos e brincadeiras, há sempre aquela nuvem acima do coração. As vezes, é só uma nuvenzinha pequenina, que mal tampa o Sol; outras vezes são grossas e gordas nuvens, que causa um dilúvio no peito, e acaba transbordando. As lágrimas são a chuva da alma.
        Mas se as lágrimas são a chuva, quem nos protege dela? Ora, e a resposta não é óbvia? A. M. O. R. Com letras maiúsculas e tudo o que tem direito. E o amor é literalmente o guarda-chuva. Não tem nada melhor que receber aquele cantinho no guarda-chuva e um casaco por sobre os ombros num dia de chuva, enquanto correm para você pegar o último ônibus da noite que vai para o seu bairro do outro lado da cidade.
        O amor é aquela xícara de chocolate quente e uma maratona de How I Met Your Mother pela quinquagésima vez, enquanto se escuta o barulho no telhado. É aquele cobertor quentinho e a conchinha apertadinha, pra espantar o frio. É vestir o moletom dele ao acordar, e ter de limpar a janela, por causa de tanta neblina.
        Mas, talvez, o mais importante de todo esse temporal é lembrar que ele passa. Que os dias ensolarados de piquenique num gramado florido vão voltar, e que a chuva vem só pra que você dê ainda mais valor a esses dias. E a chuva emocional vem, pra que não nos esqueçamos de render aquela risada que dá até falta de ar por mais 2 ou 3 segundos. E lembrar que o Sol vai brilhar lá no alto outra vez.